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quarta-feira, 29 de agosto de 2018

👍Poesia completa - Manoel de Barros


Entrada
Distâncias somavam a gente para menos. Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até para a gente pegar nele.
Eu conversava bobagens profundas com os sapos, com as águas e com as árvores.
Meu avô abastecia a solidão.
A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim: O dia está frondoso em borboletas.
No amanhecer o sol põe glórias no meu olho.
O cinzento da tarde me empobrece.
E o rio encosta as margens na minha voz.
Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar.
Eu queria que as garças me sonhassem.
Eu queria que as palavras me gorjeassem. Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens.
Me dei bem.
Perdoem-me os leitores desta entrada mas vou copiar de mim alguns desenhos verbais que fiz para este livro. Acho-os como os impossíveis verossímeis de nosso mestre Aristóteles.
Dou quatro exemplos:
1) É nos loucos que grassam luarais;
2) Eu queria crescer pra passarinho;
3) Sapo é um pedaço de chão que pula;
4) Poesia é a infância da língua. Sei que os
meus desenhos verbais nada significam. Nada.
Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei.
Sobre o nada eu tenho profundidades.

– Manoel de Barros, em “Poesia completa – Manoel de Barros”. São Paulo: Leya, 2010, p. 7.

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